Algumas palavras sobre o livro “A Princesa Mahin – Uma História Quilombola” – Luciana Moreno

A Princesa Mahin é uma história vibrante, cheia de arroubos, energia e vivacidade próprias das juventudes. Ao contrário do que se espera para este gênero literário, eu chorei copiosamente ao lê-la. Não era essa mulher feita de 44 anos que chorava. Era eu, menina, que queria tanto ter lido essa história em meus tempos de juventude. Eu, menina negra, de pele clara, cabelos crespos a denunciar o que nem eu mesma sabia nomear, estudando na escola particular das brancas... Era eu, menina, que me ressentia por não ter sido afagada e salva pelo protagonismo de Kiala Mahin e Sankara. Ela, a brava, ósada, cheia de dixote na língua, por estar certa e orgulhosa de ser uma mulher negra. Ele, menino de condomínio, preto, numa família afrocentrada, mas já tão cansado de não ter as levezas próprias da juventude graças às artimanhas cruéis do racismo. Ele, sabendo-se menino negro, mas de certa maneira fugindo disso, simplesmente porque se havia uma riqueza discursiva ofertada por pais tão incríveis para fortalecê-lo racialmente, faltava experiência, faltava vivência. E foi isso que ir ao Parque São Bartolomeu e a ruptura com as barreiras tempo-espaço forneceu para Sankara. Então, a experiência ausente se materializou através da cosmovisão africana que não fatia o tempo em passado, presente e futuro, e isso pôde devolver a Sankara um dos princípios fundamentais para o povo negro seguir guerreando e se dengando nos embates para enfrentar o racismo.

Mas vocês hão de me perguntar: aquilo ali é ficção? Não é nada. É tudo história acontecida. E o hábil narrador-historiador Fábio Mandingo comprova isso ao mapear essa Salvador real, que pode inclusive ser trilhada por pés de gente viva. Sankara viveu a experiência espiritual, intelectual e afetiva que o libertou, e nós, leitores dessa “História Quilombola”, através da leitura literária, também vivemos a experiência de atravessar o Parque São Bartolomeu, trilhar a História cartografada em cada rua dessa cidade negra e quem sabe até nos integrarmos ao levante, gritando: “Não existe você sem nós. Não existe nós sem você”.

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Luciana Sacramento Moreno Gonçalves - Professora da UNEB

L A N Ç A M E N T O
A Princesa Mahin - Uma história Quilombola, de Fábio Mandingo.
O escritor Davi Nunes e a professora Luciana Moreno conversam com Fábio Mandingo e Pedro Sobrinho! O lançamento será transmitido pelo YouTube e Facebook da Ciclo Contínuo Editorial.
Não percam!!!
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