Lançamento da série “Quebrada”, de João Pinheiro! – Texto: Escritor Sacolinha

Por: Sacolinha

O que é a pobreza na periferia, afinal? Ela está ligada ao financeiro, ao moral, ao ético ou ao espiritual? Que tipo de miséria se refere a mídia quando fala da periferia?

Se pobreza e miséria estiverem ligadas ao financeiro, aí a periferia só é pobre porque gasta o seu tempo produzindo riqueza aos empresários da bolsa de valores na Faria Lima. Agora se pobreza e miséria estiverem ligadas aos outros fatores citados, eu digo que o povo da periferia é potente.

O maracatu, o jongo e urbanamente falando, o samba, o rap e o funk, reivindicam uma cultura que é própria do povo e da periferia. E aí eu acrescento a arte de João Pinheiro*, que reivindica uma arte produzida por quem, originalmente, vive o que produz e não por quem, do alto de Pinheiros, no seu ar-condicionado, recebe uma encomenda para ilustrar um texto que se passa em um lugar afastado do centro. Quase sempre essas ilustrações vêm carregadas de estigmas. Muitas vezes há um jovem, com uma roupa larga, blusa com capuz, corrente no pescoço, um tênis esportivo e uma cara fechada. João Pinheiro retrata originalidade em seus desenhos, assim como Carolina Maria de Jesus o fez em seu livro “Quarto de despejo”.

Na série “Quebrada”, os personagens enxergam com os óculos do autor. Autor que cresceu no meio da Zona Leste de São Paulo e tem os detalhes da periferia interiorizados na sola do pé, parafraseando Racionais MC’s. Periferia dos terreiros e das escolas de samba. Dos que têm saudades da terra e relutam em cimentar o quintal para continuar plantando seu milho e sua mandioca. Periferia dos orelhões, dos pés descalços da molecada na rua de terra. Dos fuscas, das brasílias e kombis. Das igrejas de garagem, das paróquias com quermesses. Das antenas de canudos de alumínios, enfim.

Hoje é a periferia do tucson, do polo, da doblô e das parabólicas. Periferia da arquitetura que faz inveja aos admiradores de Niemayer. Dos estudantes estrangeiros à procura de conteúdo para a sua tese.

Apesar de todo esse crescimento econômico, não é isso o que faz desse lugar um ambiente de poder. Nosso autorreconhecimento é que é o responsável. Pois até o começo dos anos 2000 a TV fez a gente acreditar que “Periferia” era sinônimo de miséria e violência. Mal sabíamos do nosso valor e que era possível. Aprendemos que “Periferia” é sinônimo de potência. Pudemos enfim, nos apropriar de nossa cultura e mostrar ao mundo que quem faz o Brasil não é a Casa Grande. É a Quebrada!

LANÇAMENTO DIA 03/07 - 19H30 - YOUTUBE E FACEBOOK DA CICLO CONTÍNUO EDITORIAL

- Série "Quebrada", ilustrada por João Pinheiro*. 9 lâminas [A3] e pasta com o zine "Vagulino: Diário gráfico das quebradas", produzida especialmente para a série. Carta de apresentação: Escritor Sacolinha
*João Pinheiro (SP) é ilustrador, artista visual e quadrinista. Pinheiro tem colaborado para diversas revistas, jornais, editoras, produtoras de vídeo e agências de publicidade. É autor de CAROLINA (Veneta, 2016) junto com Sirlene Barbosa, indicado ao prêmio Jabuti, ganhador do prêmio ecumênico do Festival de Quadrinhos de Angoulême 2019 e do trófeu HQ Mix na categoria Relevância Internacional 2020, BURROUGHS (Veneta, 2015), lançado também na Turquia e na França, e KEROUAC (Devir, 2011).
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Escritor Sacolinha - romancista, contista e cronista. Nascido e criado na Zona Leste de São Paulo. Publicou Graduado em Marginalidade, Manteiga de Cacau, Estação Terminal, Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser, entre outros.

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