O Prof. Márcio André de Oliveira dos Santos comenta o livro “Diálogos Contemporâneos Sobre Homens Negros e Masculinidades”

Sou um homem negro, pai de dois meninos negros. Meu pai é um homem negro e foi marcado pelo drama de muitos homens negros no Brasil: problemas com drogas no passado, trabalhos precarizados e jogatinas. Por outro lado, construiu durante décadas junto com minha mãe, a casa que residem hoje, bem estruturada, com quintal, cheia de luz e nos deu a educação possível em um contexto de muitas adversidades. São imagens que guardo do passado, mas que faço questão de sublinhar aqui no início deste texto para que entendam minimamente de onde falo. Tornei-me um homem negro em condições sociais muito desfavoráveis. E esta é a realidade de muitos de nós, da imensa maioria.

Finalmente nos chega uma publicação que tematize prioritariamente as masculinidades negras, ou seja, a condição vivida dos homens negros brasileiros. Homens que carregam consigo um rol de experiências, as mais diversas possíveis.

Apesar de sermos muitos e, portanto, diversos, somos vistos e sistematicamente retratados de maneira homogênea pelos meios de comunicação. Homem negro tem sido sinônimo de homem violento, de ladrão, de marginal, de traficante. Somos vistos como perigosos, feios, que aguentam trabalhos pesados, que abandonam os filhos. Por outro lado, os homens brancos são construídos de maneira contrária à imagem dos homens negros. Homens brancos são vistos como empreendedores, belos, responsáveis, corajosos, fraternos, simpáticos.

Não há como entender esse simulacro de representações sem, antes, compreendermos o modus operandi do racismo no Brasil. Racismo é um instrumento de poder que estrutura todas as relações sociais. Portanto, reverter esse conjunto complexo de imagens negativas sobre os homens negros na percepção popular é um trabalho que se faz urgente. Daí a importância de nos apropriarmos de estudos e reflexões no campo das masculinidades negras.

Nós, os homens negros, constituímos um segmento específico no conjunto da população negra. Não existe uma essência de homem negro. Qualquer tentativa nesse sentido é falsa.

Este livro, caro leitor ou cara leitora, certamente possibilitará outra percepção sobre quais os principais desafios postos à condição de ser homem negro na sociedade brasileira. Portanto, boa leitura!

Lançamento em São Paulo - 09 de maio de 2019. Confirme presença no evento e compartilhe com a/os amiga/os: goo.gl/FSmQRj

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Márcio André de Oliveira dos Santos

Doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ. Atualmente é professor da UNILAB – Campus dos Malês, na Bahia, e coordena o curso de bacharelado em Relações Internacionais. Tem se dedicado a pesquisas sobre Movimentos Negros, Ação Coletiva, Etnicidade, dentre outros temas.

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