Já não há mais razão para chamar as lembranças
e mostrá-las ao povo
em maio.
Em maio sopram ventos desatados
por mãos de mando, turvam o sentido
do que sonhamos.
Em maio uma tal senhora Liberdade se alvoroça
e desce às praças das bocas entreabertas
e começa:
“Outrora, nas senzalas, os senhores...”
Mas a Liberdade que desce às praças
nos meados de maio,
pedindo rumores,
é uma senhora esquálida, seca, desvalida
e nada sabe de nossa vida.
A Liberdade que sei é uma menina sem jeito,
vem montada no ombro dos moleques
ou se esconde
no peito em fogo dos que jamais irão
à praça.
Na praça a Esperança se encolhe
ante o grito: “Ó bendita Liberdade!”
E esta sorri e se orgulha, de verdade,
do muito que tem feito...
Oswaldo de Camargo é jornalista, escritor e ativista da cultura afro-brasileira, Oswaldo foi um dos fundadores do Grupo Quilombhoje, coletivo de autores voltados para a publicação, a discussão e a divulgação da literatura negra no Brasil. Autor dos livros O Negro Escrito – Apontamentos sobre a Presença do Negro na Literatura Brasileira (estudos literários); O Carro do Êxito (contos); O Estranho(poemas); A Descoberta do Frio (novela); Oboé (novela), Raiz de um Negro Brasileiro – Esboço Autobiográfico (memórias); Lino Guedes: Seu Tempo e Seu Perfil, entre outros. Por seus estudos sobre o poeta negro simbolista Cruz e Sousa recebeu, em 1998, da Secretaria de Cultura de Santa Catarina, a Medalha de Mérito Cruz e Sousa; e, pela presença e atuação na literatura negra no Brasil, recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares, em 2013, pela Câmara Municipal de Salvador (BA). Em outubro de 2015, foi-lhe outorgado o título de cidadão paulistano, em Sessão Solene na Câmara Municipal de São Paulo. É conselheiro do Museu Afro Brasil, em São Paulo.